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NAPP promove IV Circuito de Poesia da Bahiana

Edição contou com a participação de integrantes do movimento Hip Hop de Salvador.

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Na batida do RAP (Rythm and Poetry – Ritmo e Poesia) e na levada pop rock, a poesia foi celebrada este ano no IV Circuito de Poesia da Bahiana. No dia 21 de março, estudantes, professores e colaboradores da instituição puderam conhecer o trabalho de algumas figuras da cena contemporânea do movimento Hip Hop de Salvador.

Por sua vez, no dia 28 de março, a música que animou o circuito na Unidade Acadêmica Brotas veio dos estudantes do 5º semestre do curso de Medicina com a banda Arritmia que trouxe canções dentro do contexto pop e rock nacional. Nos dois dias, estudantes e colaboradores puderam mostrar suas composições, textos, poemas e outras formas de expressão artística, a exemplo da dança que serviu de instrumento para a aluna do curso de Fisioterapia Verônica Fonseca apresentar um poema declamado pelo estudante de Medicina Gabriel Grise, na Unidade Acadêmica Brotas.
 

     
Fomentar espaços de diálogo, interação e expressão de sentimentos é uma das missões do Núcleo de Atenção Psicopedagógica (NAPP), segundo a sua gestora, Angélica Mendes. Ela conta que após o sucesso do Agosto das Artes, iniciativa onde é fomentada a exposição e apresentação de diversas formas de criações artísticas de funcionários e estudantes, o núcleo decidiu promover, no mês de março, o Circuito da Poesia. “O NAPP tem como missão fomentar a cultura e a arte na instituição. Acreditamos que esse movimento promove mais integração entre as pessoas, cria um ambiente vivo e orgânico, ativa o talento e é um espaço de expressão”.

Angélica diz que a ideia do circuito é, justamente, fazer circular a poesia nos diversos ambientes, levando aqueles que ali vivem a fruir essa arte das mais variadas formas. “E, com isso, estamos alimentando a formação dos nossos estudantes e o desenvolvimento dos nossos funcionários, enfim, de todos os que possam estar em contato e participando desse momento”.


Muitas formas de poesia

As rimas do colaborador do Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI), Gabriel Silva, mais conhecido no cenário Hip Hop baiano como Salvi e de seus companheiros Cristian Dactes, Sandro Sussuarana, 16 Beats (Anderson Santana) e Tom VX (Thomás Daltro, também colaborador do núcleo administrativo da Unidade Acadêmica Cabula) levantaram novas possibilidades de perceber a poesia que, por meio do RAP, ganha também um cunho mais crítico e de protesto. Juntos, eles participaram da edição na Unidade Acadêmica Cabula, no dia 21.
 

     
"A poesia é viva em diversos momentos. Eu já me interessava em batalha de rimas, já ouvia muito RAP e, vendo tudo isso, percebi que também posso expressar muito do que eu sinto por meio da música. Percebi que, além de escrever, através do meu som, eu também posso ajudar diversas pessoas, ajudar a cena Hip Hop a crescer, a levar pessoas a conhecerem o movimento e a cultura Hip Hop local", declara Gabriel, muito satisfeito em mostrar um pouco de seu trabalho no seu ambiente profissional. “Nunca vi uma empresa dar um espaço desse a um funcionário. Eu fiquei muito feliz em poder trazer minha mensagem para as pessoas".

Apresentar um pouco de seu trabalho para os estudantes e colaboradores da Bahiana foi considerado por Sandro Sussuarana como excepcional. “É bem inusitado estar aqui hoje, mas só prova como a poesia tem esse poder de nos levar a espaços como esse, uma instituição que não é voltada para a arte especificamente. A poesia abre portas, cria asas. E é importante estar nesses espaços para passar a nossa mensagem. Muitas vezes, as pessoas acham que a poesia é uma coisa distante, mas, na verdade, ela está tão próxima da gente que basta apenas prestar atenção".
 

     
O contato com a arte da periferia sensibilizou a estudante do 4º semestre de Enfermagem, Fernanda Carvalho. "Achei sensacional o grupo dos meninos que se apresentaram aqui, ficamos impressionados com a inteligência deles e a capacidade de criar esses RAPs e as analogias que eles fazem. Também é muito importante esse espaço que nos permite conhecer esses grupos e um pouco do mundo deles que, às vezes, fica muito distante da gente".

O rapper Cristian Dactes vem de uma família de professores onde sempre foi incentivada a leitura e a escrita. "Desde pequeno, tenho esse interesse pela poesia, pela música, pelo RAP. Hoje, em Salvador, a cena vem aumentando. Há alguns anos, o RAP era visto como coisa de marginal, bandido. Hoje em dia, já tem uma liberdade maior. Não tem o mesmo espaço de outras linguagens como o axé, mas já ganhou mais espaço. A intenção é levar cada vez mais a mensagem de que o RAP é muito mais do que aquilo que é mostrado na televisão. RAP é cultura, salva muitas crianças".

Participar do IV Circuito de Poesia da Bahiana foi muito importante para Dactes, pois, segundo ele, poucas pessoas conhecem a história e o que é o Hip Hop. "Foi muito bom esse espaço para apresentarmos outra ideia, outro ritmo, outra forma de escrita".
 

     
Para Anderson 16 Beats, a proposta de se apresentar na Bahiana foi enriquecedora para todos os presentes. "Muitas vezes, as pessoas chegam aqui, vão para sua aula, seja de odontologia ou de medicina, depois vão para suas casas e não têm aquele diálogo, não têm a visão de um mundo real, como ele é. E, com o RAP, a gente trouxe essa mensagem, explicou um pouco, falou de sentimento e acredito que ninguém vai sair daqui da mesma forma que entrou".

A coordenadora de Desenvolvimento de Pessoas da Bahiana, Prof.ª Luiza Ribeiro, reforça as palavras do artista no que tange à troca de experiências e de saberes. "O que a Bahiana se propõe realmente é abrir as portas para o que há no mundo agora, ontem e no futuro e a participação de nossos colaboradores e dessa moçada de ponta do Hip Hop da Bahia, só vem enriquecer o dia a dia dos nossos alunos. Vimos também a atenção deles e podemos perceber que reflete a identidade de muitos aqui dentro".


Exposição

No dia 28 de março, a Unidade Acadêmica Brotas também recebeu uma exposição de poetas. Entre eles Luiza Rodrigues, estudante do 3º semestre de Psicologia. Desde os oito anos, a poetisa já expressava seus sentimentos. “Foi algo muito natural, comecei a escrever alguns rabiscos e quando vi, isso já tinha me tomado o peito e estou aqui até hoje. É muito importante, porque tudo me expresso através da poesia, seja quando estou bem ou estou mal”.
 

     
Segundo Ricardo Mattos, 5º semestre de Psicologia, iniciativas como o Circuito da Poesia são essenciais para promover a saúde mental e o bem-estar de estudantes e colaboradores. “Acho fundamental, porque, parte do processo, inclusive de saúde mental, é se expor, colocar o que sente, ter um momento de confraternização, de interação e a Bahiana trabalha muito bem isso”, declara Ricardo, lembrando que seu contato com a literatura deu-se desde criança, com seu avô lendo histórias e que hoje já tem livros, muitos textos escritos, mas ainda não publicados.

Para o estudante do 3º semestre de Psicologia Millen Carvalho, "é uma sensação de ousadia e liberdade ao mesmo tempo, porque a gente vive num mundo caótico, complexo, cheio de novas demandas e a gente poder parar para expor algo que é tão íntimo nosso em um mundo em que se discute tanto sobre o externo e não sobre o interno, a gente ter esse espaço é muito valoroso, estou adorando”.
 

     

Confira alguns versos


Escrevo na falta ou no excesso. Escrevo para ficar o mais perto possível das lágrimas e compreendê-las. Escrevo quando o sorriso largo não sai todo por falta de uma boca maior. É por isso que escrevo, para sair dos meus silêncios e doar-me a um surto de mistura com as palavras. Na minha loucura e temperamento, na minha cura e ferida do momento. Escrevo, escrevo...escrevo!

(Um surto poético com as palavras em poesia – Millen Carvalho)



Quando a arte de questionar pulsa

E se toma visto o subjetivo se tornando objetivo

E a estrutura não mais derrete com o calor do imprevisível

O curto tempo vira uma eternidade

E o simples vira apenas simples

Perde a humanidade de ser único

Os remédios recomendados não surtam mais efeito

A técnica se perde no mar do cientificismo

E a alma não mais vigente se torna bateria do produto

O indivíduo se metamorfoseia apenas em paciente

E a dor vira problema

O passado não tem mais importância

Quando o que vale mesmo é o que incomoda agora


Ricardo Mattos




Transa com o universo

Voo porque o voo é livre

E tão livre quanto o voo só é o meu corpo

Pouso porque gosto de ficar, me enroscar, criar raízes

E dasabrocho no seu olhar, penar, nas suas cicatrizes

Vou recolhendo pétala por pétala até me refazer como flor


E vivo na espera angustiante da luz e da paz celestial

O instante me invade e faz morada em meu ventre

E sem querer me sinto em sintonia com o universo


Me curvo ao meu coração viajante

Que fez morada em cada um que me tocou, me amou

Me transbordou de alguma maneira

E sem sujeira fez festa com a minha emoção de estar viva

De ser rio, de ser mar, de ser vida!

De ser encontro e jamais despedida


Luiza Rodrigues




Confira as fotos.