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16/05/2016
“Esse evento tem múltiplos objetivos, desde manter acesa essa chama e a discussão acerca dos princípios da reforma psiquiátrica, os objetos da luta antimanicomial tanto no campo social quanto assistencial e passa também pelo desejo da Bahiana em mobilizar seu corpo estudantil e inseri-los nesse processo de reformulação de cuidado possibilitando, assim, um espaço horizontalizado onde a palavra possa fluir entre docentes, acadêmicos, usuários e familiares do sistema de saúde mental de Salvador”, explica o Prof. Rafael Fernandes – psicólogo, mestre em Medicina e Saúde Humana da Bahiana e coordenador do evento “Lutas em Saúde Mental” que aconteceu no dia 13 de maio, na Unidade Acadêmica Cabula, da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.
A programação reuniu discentes, docentes, profissionais do campo da saúde, usuários e familiares com o intuito de debater temas relacionados ao campo da saúde mental, como experiências antimanicomiais e rede de atenção psicossocial, efeitos psicossociais do racismo: transtorno mental e sofrimento psíquico, os CAPS e as residências terapêuticas como dispositivos de transformação do cuidado, entre outras temáticas.
A abertura do evento contou com apresentação do Coral Ciclonia do Hospital Dia Ciclos e, logo depois, foram realizados debates, palestras e mesas- redondas relacionados à temática da saúde mental com a presença da Dra. Mônica Nunes, médica, mestre (UFBA) e Ph.D. (Univ. Montreal); Dra. Milena Lisboa, psicóloga, doutora em Psicologia Social (PUC-SP); Felipe Soares Rodrigues, psicólogo, especialista em Saúde Mental e Substâncias Psicoativas (UFBA/ARFC); Dr. Alessandro de Oliveira Santos, psicólogo, doutor em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano (USP); Viviane Mota, psicóloga, especialista em Saúde Mental na Atenção Básica (Bahiana) e coordenadora do CAPS II Adilson Sampaio, coordenados pelos docentes da Bahiana, Prof. Fabio Giorgio Azevedo, psicólogo, mestre em Educação (UFBA); Prof. Rafael Fernandes e Prof.ª Lidiane Guedes, psicóloga, especialista em Saúde Mental e mestre em Psicologia Social (UFSE).
“Entendo essa programação como um espaço formativo, que nos acalenta e incentiva porque sinto o quanto temos uma potência em função de tudo o que está acontecendo no nosso país e, em vários momentos, ficamos inquietos, frustrados e, quando estamos em um espaço como esse, nos alimentamos de força e quem poderá fazer esse movimento somos nós, enquanto instituição de ensino e comunidade acadêmica”, explica a coordenadora do curso de Psicologia Sylvia Barreto.
A Dra. Mônica Nunes parabeniza a Bahiana por fomentar eventos que contribuam para o movimento na luta contra a melhoria da qualidade da saúde mental. “Esse movimento tomou um fôlego muito grande este ano e vem se construindo com um protagonismo que envolve tanto os próprios usuários como estudantes e a própria comunidade acadêmica. Esse momento é o lugar onde podemos continuar construindo coisas e, sobretudo, resistindo a mudanças quem podem acontecer e que não podemos nos permitir retroceder”, explica.
“Sou usuário da saúde mental desde quando nasci por ter transtorno mental e umas das piores fases da minha vida foi quando criança, pois o preconceito era muito grande e os meios de saúde eram totalmente diferentes dos tempos atuais”, relata José Raimundo dos Santos, 48 anos que sofreu bastante por não ter base profissional e ser vítima de tratamentos com eletrochoque e clausura no manicômio. Ele enfatiza a gratificação de participar de eventos como esses e relata a melhoria na reforma psiquiátrica que ajudou bastante na qualidade de vida dos portadores de deficiência mental.
Segundo a Prof.ª Lidiane Guedes, a proposta de trazer os estudantes para um encontro com profissionais de saúde mental, com os próprios usuários e seus familiares implica em uma formação da saúde mental comprometida com os princípios do SUS e da Lei 10.216 que protege o direito das pessoas que estão em sofrimento psíquico. “Na atualidade, no modelo vigente de trabalho e da nossa sociedade, principalmente pensando no momento político atual, em que vemos uma grande defasagem e retrocesso das políticas públicas e garantia dos nossos diretos como cidadãos, encontros como esse acarretam efeito direto na nossa saúde mental, fortalecendo ideia e ações em prol de melhorias”.
“Relatar o que está acontecendo no mundo da saúde mental, nas questões políticas e sociais, é superimportante, para se conhecer o sofrimento dessas pessoas que vivenciam, ainda, o preconceito, o estigma. Essa transmissão do conhecimento é que é capaz de libertar essas pessoas”, conclui Maria Emilia Pereira, aluna do 9° semestre do curso de psicologia da Bahiana.
No fim da programação houve uma apresentação dos Incênicos e do Bando Flores da Massa, trazendo um pouco de arte e poesia acerca dos posicionamentos e discussões em torno da temática discutida.